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Aula 10 - Finalizando

Vamos finalizar, hoje, nossa reflexão acerca do conceito de eudação patrimonial. E com isso, o curso proposto.


A ideia é que a educação patrimonial tenha início com o estudo da realidade familiar/comunitária, pois a maior parte dos jovens não situa sua identidade cultural no patrimônio público:


“Trata-se, portanto, de levar para dentro da escola suas gentes, seu entorno, seu cotidiano e de tirar os alunos de seu limite espaço-temporal, oferecendo vivências em praças, conversas com pedestres, formando um olhar perscrutador para o dia a dia que movimenta a cidade (PARK, Margareth Brandini., p. 21)".


Assim, um passeio pelo bairro seria mais que um passeio, mas uma forma de reconhecer as pessoas como sujeito, com o bairro sendo entendido como o primeiro espaço de apropriação da vida cotidiana/pública.


Há, no entanto, um alerta: a família, o bairro, deve ser o ponto de partida, mas não o de chegada.


Vejamos alguns exemplos:


Em projeto desenvolvido na zona Oeste do município de Londrina-PR, no ano de 2003, intitulado "Projeto Centro de Documentação e Pesquisa da Ciranda", com patrocínio do Programa Municipal de Incentivo à Cultura - PROMIC, fizemos um levantamento das personalidades e lugares considerados importantes para a comunidade. Após a definição, realizamos um passeio pelo bairro, para reconhecermos estes espaços. Tiramos fotos e montamos uma exposição de painéis. Além disso, realizamos entrevistas com as personalidades escolhidas, montamos também uma exposição e o calendário, que está disponível para download.


É interessante ressaltar a história que perpassa a confecção do calendário e a escolha das fotos:


  • a primeira idéia era fazer um calendário de mesa. Porém um jovem, morador do bairro, argumentou que, na casa dos pais e dos avós, todos usavam calendário na parede. Optou-se então pelo calendário de parede, ficando um constrangimento para os intelectuais que estavam a frente do projeto;
  • visando contemplar os participantes do projeto, e não apenas os proponentes, optou-se por mencionar o nome de todos ao redor do calendário, sugestão dada também por um jovem  morador;
  • a primeira foto do calendário foi escolhida devido a um evento que ocorrera no bairro Campos Verdes: conta-se que ali ocorreu uma Ventania, e que Seu Espedito fora um dos poucos que resistiram a ela. A ventania fora uma invasão por parte de traficantes da região, que expulsaram os moradores do bairro, mas não Seu Espedito, que se negou a sair e, quando a ventania passou, ou seja, quando os traficantes foram presos ou (também) expulsos pela polícia, foi tido como herói pela comunidade;
  • a segunda foto, de Dona Sebastiana, uma dona de casa e líder comunitária, moradora do Bairro Avelino Vieira, representa a luta da mulher trabalhadora, que vive batalhas diárias para sustentar sua família. Foi tida como um exemplo pelos moradores, o que justificou sua escolha.




Um outro caso foi o projeto desenvolvido no Município de Cambé-PR, no Bairro Ana Rosa, nos anos de 2005 e 2006, intitulado Projeto Agente Jovem, mantido com recursos do Governo Federal. Neste fizemos, como no anterior: um mapeamento dos lugares considerados importantes no bairro; o reconhecimento destes lugares, a partir de roteiros; tiramos fotos e realizamos a identificação das mesmas


O interessante de se destacar neste projeto é o fato de que, a princípio, os participantes afirmarem que ali não havia nada de importante que pudesse, ou merecesse, ser lembrado ou preservado. No entanto, ao final das oficinas, foram tantos os espaços selecionados que tivemos que montar três roteiros, sendo eles:

Roteiro 01
1.      Casa Comunitária;
2.      Escola Municipal Lourdes Gobi;
3.      Quadra Poliesportiva;
4.      Creche;
5.      Mata Peroba Rosa (bacia);
6.      Ponte;
7.      Igreja Adventista;
8.      Igrejinha.



Roteiro 02
1.      Redondo (Ginásio);
2.      Colégio Antônio Raminelli;
3.      Pré-Escola;
4.      Campão;
5.      Praça;
6.      Escola / Quadra Esportiva.


Roteiro 03
1.      Fazenda Raminelli



Uma história interessante que marcou este projeto foi a identificação de um lugar, que não existe mais, como um "patrimônio histórico": o redondo.


O redondo é uma grande rotatória localizada na avenida principal do bairro (http://wikimapia.org/#lang=pt&lat=-23.272465&lon=-51.255088&z=18&m=b) . Esta rotatória servia de espaço de vivências para os jovens, realizando ali encontros, geralmente com músicas. A avenida, onde se localiza o redondo, é um lugar de comércio, sendo que, segundo a fala dos participantes do projeto, estes comerciantes não gostavam da presença dos jovens no local.

Bom, no final da história, a prefeitura construiu um ginásio no redondo, o que causou certa revolta e descontentamento por parte dos jovens do bairro, que se sentiram expropriado de um lugar de convivência.

São os órgãos públicos atuando para atender os interesses de um grupo, no caso os comerciantes, em detrimento dos interesses de outro grupo, os jovens do bairro. Vale ressaltar que este é um bairro considerado violento, e os jovens, por sua vez, reclamam da falta de espaços de lazer e convivência.
Existem outros projetos que abordam as experiências e vivências locais, como o Projeto "Biblioteca Viva de Cultura Popular", de Londrina-PR, e o Projeto "Memória nos Bairros", de Itajaí-SC, ou mesmo o Educação Patrimonial, que desenvolveu metodologia própria, e que pode (e deve) ser acessado clicando aqui.


Estas são propostas de educação patrimonial escolar e não escolar, envolvendo a comunidade, em especial jovens das periferias das cidades.


Nestes casos, a educação patrimonial aparece como instrumento que garante o direito à memória e a cidadania, podendo provocar reações positivas ou gerar conflito.


Entendemos que a educação patrimonial deve:


  • ser entendido como instrumento de afirmação da cidadania;
  • envolver a comunidade, levando a apropriar-se e usufruir do patrimônio;
  • preparar o indivíduo para a leitura e compreensão do universo sócio-cultural que está inserido;
  • produzir novos conhecimentos, possibilitando um enriquecimento individual, coletivo e institucional;
  • tornar acessível instrumentos para leitura crítica dos bens culturais em suas múltiplas manifestações;
  • fortalecer a identidade cultural;
  • entender a cultura brasileira como múltipla e plural e;
  • estimular o diálogo com órgãos responsáveis.


Deve ainda (CERQUEIRA, Fábio Vergara., p. 100):


  • sensibilizar a comunidade para a importância de sua memória e;
  • possibilitar uma reflexão sobre as memórias dos diferentes grupos sociais, levando-o a perceber que o patrimônio não é o belo ou o excepcional, mas as formas de expressão/manifestação/fazeres que simbolizam a memória coletiva.


A palavra chave aqui é identidade e identificação, pois só haverá envolvimento e comprometimento com o patrimônio quando houver identificação.


Neste caso, optamos por uma Educação Patrimonial Progressista, que pressupõe:


  • que a identificação não deve ser forçada;
  • que se deve questionar se a população conhece / reconhece o patrimônio;
  • que incorporar, por meios impositivos, o patrimônio na identidade local não é educação patrimonial;
  • que não há imposição de memórias, percepções ou consciência;
  • que há necessidade de considerar os conflitos de memória: não há somatória, mas contradição;
  • que há necessidade de considerar o ocultamente e a tendência a unicidade.


É este caminho que seguimos quando pensamos a educação patrimonial.
Como forma de apropriação da cidade, desenvolvemos alguns roteiros, que podem ser acessados pelo link http://educacaopatrimonial.com.br/, clicando em roteiros.

Uma forma de trabalhar com os roteiros, é fazendo uso do Google Maps. Para tanto, dê uma navegada nos seguintes links:


Roteiro da Diversidade Religiosa




Finalizando ...


Bom, pessoal, espero que tenham gostado das aulas e das reflexões propostas. Vamos manter o grupo para debates e reflexões, e divulgação das ações e projetos que estejam desenvolvendo, Ok?

E respondam o último questionário do curso, clicando aqui.

Abraços a todos, e até a próxima.

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